quinta-feira, 15 de novembro de 2007

(fascículo 10)


Características principais da Nau Portugal

Comprimento - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 42,200 m
Boca - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 11,400 m
Pontal (do fundo da carena - a meio - à linha recta
dos vaus do pavimento superior--------- - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 7,500 m

Calado inicialmente previsto :
Calado final : - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 3,12 m proa e 4,52m à pôpa
Nº de canhões : - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - -48
Nº Mastros : - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - - 3

Quadro 1

Certo é que, naquela manhã festiva, Mestre Mónica se sentia inquieto. Logo desde muito cedo tinha subido e descido a escada de acesso ao convés, tantas vezes que já lhe perdera a conta ; desde o nascer do sol que Mestre Manuel Maria (já) investigara todos os pormenores com extrema minúcia, em especial, a carreira e o carro do deslizamento, inspeccionando atentamente as talhas de fixação que prendiam a nau e a mantinham imobilizada. Acontecera-lhe dar com o olhar, por vezes -demasiadas vezes - pousado no bojo arredondado, sem dúvida enorme no porte em confronto com as delgadas e pronunciadas saídas de água, à ré. Porquê ?! : - talvez não o soubesse explicar. Dedicou mesmo especial atenção ao trancamento do leme, de modo a que este não empachasse na água, aquando da entrada da Nau, na ria.
Em todos os momentos que antecedem o «bota-abaixo» era normal que o Mestre fosse possuído por nervoso miudinho. Lançar um barco de centenas de toneladas, carreira abaixo, era um exercício de risco assumido ; vê-lo fender a água, vertiginosamente impulsionado por toda a inércia transformada em movimento acelerado, era de arrepiar os cabelos. Para o Mestre, porém, era coisa que lhe não bulia em demasia com os nervos, apenas era capaz de criar algum desconforto pois que sabia bem o que saía das suas mãos. Contudo, naquele dia, algo - o quê (?) magicava…- estava a ser diferente…
A verdade, era não ser aquela uma obra vulgar ; ela era, sem dúvida, o feito da sua vida, uma daquelas passagens que fazem a distinção entre o vulgus e o suserano, entre o imémore e o perpétuo. E por isso se sentia, naquele celebrado dia, algo diferente do habitual, inquieto mesmo.
Feito um rápido cálculo ao deslocamento, de uma maneira expedita e aproximada, concluíra-se haver a hipótese de o deslizamento sobre a água, atirar a embarcação sobre o bordo norte do canal. Que era de lodo - logo se disse - assim tranquilizando os receios de tais conjecturas e avisos. A mais, sendo fundos pouco consistentes, se tal sucedesse, facilmente a embarcação abriria cama suficiente para neles «apoitar».
Mas, à cautela, retirou-se lastro à Nau, limitando-se assim, tal risco.
Com esta acção aligeirara-se o calado ; era certo. Mas o Mestre não ficou sossegado. Sabia que com este procedimento se poderia estar a correr ao encontro de um outro risco, esse bem maior do que o possível encalhe. Muito maior!
(cont)

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