1.5 - INQUIETAÇÃO NO MESTRE
Mestre Manuel Maria Mónica, construtor naval já então afamado, tinha crescido a ver nascer navios ; já vira certamente nascer tantos, quantos os anos que somava de vida. Desafiado para concretizar tão descomunal obra -a da «Nau Portugal» - não teria precisado de muito tempo par dar resposta positiva a tão desarcada e colossal, como desafiante e temerosa empreitada, mas para a qual se sentia plenamente à altura. Talvez dito de outro modo : mestre Mónica sentia-se mesmo talhado par a mesma, ou até para ela predestinado, pois que se a obra era grandiosa e vasta, basta era a sua prática, e seguro o seu saber. Próprios de um mestre exímio na arte, daqueles que nascem com o prodígio de precisarem, num simples olhar, o jeito suficiente para afagar um corte, de modo a que o tabuado se ajuste, doce e aconchegado ao cavername, permitindo que o costado nasça macio e se desenvolva donairoso. Lindo para se ver, mas e também, lestos para navegar.
Os veleiros saídos da mão de Mestre Mónica tinham seguros, reputados e afamados dotes, por demais conhecidos. Robustos o bastante para resistir a todas as imprecações do mar, fossem elas de que tipo e dimensão fossem, e por mais danação que aquele tivesse, ou estramboto mostrado ; belos e equilibrados no poisio na água, e finos, capazes como poucos, de boas e despachadas singraduras.
Era porém certo que no caso da Nau tinha havido pouco tempo para um projecto cuidado e rigoroso, que obedecesse a detalhes técnicos precisos, para se cumprirem as boas práticas da construção naval. Tomada a decisão política para a construção da Nau, pouco se tinha feito para lá de, em termos gerais, se decidir a reprodução de uma embarcação igual a tantas outras que se teriam construído no passado, réplica dos galeões que nos Séc. XVII e XVIII tinham povoado os mares - todos os mares de todos os oceanos - cruzando-os, em incessante tarefa de carrego de riquezas, de ouro, jóias, sedas e especiarias, ou em acto de corso predador, fazendo-as passar num ápice de mãos reais para as mãos de ambiciosos e obscuros desígnios.
Para dar corpo à Nau elaborara-se, apenas e só, um esboço aproximado, um bosquejo de um plano geral de formas, confiando-se negligentemente - muito mais do que a boa intenção aconselharia - no saber do Mestre Mónica, o qual teria exigido pouca pormenorização das carenas, e ou, dos cálculos e traçados complementares, sendo-lhe bastante um conceito geral das formas requeridas. Pareciam os promotores -isso sim! -, muito mais preocupados com o imperiosamente majestático, sobrante de deslumbro impante, encarregando de tal cometimento, Leitão de Barros, o encenador oficial dos grandes momentos de fausto do regime, para o tratamento artístico do interior, que se pretendia, soberbamente rico.
Mestre Manuel Maria Mónica, construtor naval já então afamado, tinha crescido a ver nascer navios ; já vira certamente nascer tantos, quantos os anos que somava de vida. Desafiado para concretizar tão descomunal obra -a da «Nau Portugal» - não teria precisado de muito tempo par dar resposta positiva a tão desarcada e colossal, como desafiante e temerosa empreitada, mas para a qual se sentia plenamente à altura. Talvez dito de outro modo : mestre Mónica sentia-se mesmo talhado par a mesma, ou até para ela predestinado, pois que se a obra era grandiosa e vasta, basta era a sua prática, e seguro o seu saber. Próprios de um mestre exímio na arte, daqueles que nascem com o prodígio de precisarem, num simples olhar, o jeito suficiente para afagar um corte, de modo a que o tabuado se ajuste, doce e aconchegado ao cavername, permitindo que o costado nasça macio e se desenvolva donairoso. Lindo para se ver, mas e também, lestos para navegar.
Os veleiros saídos da mão de Mestre Mónica tinham seguros, reputados e afamados dotes, por demais conhecidos. Robustos o bastante para resistir a todas as imprecações do mar, fossem elas de que tipo e dimensão fossem, e por mais danação que aquele tivesse, ou estramboto mostrado ; belos e equilibrados no poisio na água, e finos, capazes como poucos, de boas e despachadas singraduras.
Era porém certo que no caso da Nau tinha havido pouco tempo para um projecto cuidado e rigoroso, que obedecesse a detalhes técnicos precisos, para se cumprirem as boas práticas da construção naval. Tomada a decisão política para a construção da Nau, pouco se tinha feito para lá de, em termos gerais, se decidir a reprodução de uma embarcação igual a tantas outras que se teriam construído no passado, réplica dos galeões que nos Séc. XVII e XVIII tinham povoado os mares - todos os mares de todos os oceanos - cruzando-os, em incessante tarefa de carrego de riquezas, de ouro, jóias, sedas e especiarias, ou em acto de corso predador, fazendo-as passar num ápice de mãos reais para as mãos de ambiciosos e obscuros desígnios.
Para dar corpo à Nau elaborara-se, apenas e só, um esboço aproximado, um bosquejo de um plano geral de formas, confiando-se negligentemente - muito mais do que a boa intenção aconselharia - no saber do Mestre Mónica, o qual teria exigido pouca pormenorização das carenas, e ou, dos cálculos e traçados complementares, sendo-lhe bastante um conceito geral das formas requeridas. Pareciam os promotores -isso sim! -, muito mais preocupados com o imperiosamente majestático, sobrante de deslumbro impante, encarregando de tal cometimento, Leitão de Barros, o encenador oficial dos grandes momentos de fausto do regime, para o tratamento artístico do interior, que se pretendia, soberbamente rico.
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