domingo, 16 de dezembro de 2007







(fasciculo 15º)






A Nau parou, finalmente travada pela água ; as pequenas embarcações que a aguardavam na ria, pressurosas, afundaram remos para dela se aproximar, com o fito de a apreciarem de mais de perto.
Quieta um minuto, imponente, deu repentinamente para se inclinar para estibordo e, determinada, sem hesitar, parecendo obedecer a forças estranhas - e bem o eram ! - voltou-se num ápice.
«E fez da quilha… portaló», como se diz na gíria marinheira.








f ig 10 - A Nau começa a inclinar-se


Um arrepio percorreu a multidão. Silêncio maior só nos cemitérios. Que logo se tornou em prolongado murmúrio provindo de desalentada imprecação, dirigida aos deuses. A quem ia a bordo, não restou outra alternativa senão ressarcir-se do susto e exibir os dotes de bom nadador para se acolher a uma ou outra das embarcações, das muitas que se tendo aproximado, logo tinham posto os seus remos a ciar furiosamente, para lestas inverterem a manobra, e em marcha a ré, «a toda a força !», se afastarem do volteio da Nau, para colocados a bom resguardo, parada a



fig 11 – A Nau de quilha ao portaló

Nau, fundeada no lodo, regressarem apressados, desta vez para acolher os náufragos de tão curta viagem.
Estranha onda de desalento se seguiu à incredulidade dos primeiros momentos ; o silêncio dos que estavam em terra com o infortúnio estampado nos rostos, era apenas cortado pelas imprecações vindas das embarcações, no lufa-lufa de meter a bordo os forçados «banhistas».
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