O Ministro imaginava a cólera de Salazar, personalidade implacável e profundamente arreigada aos símbolos pátrios, que se auto assumia guardião das virtudes da gesta. Pensou - e até previu - o inevitável rolar de cabeças que tal infeliz desfecho para obra tão grandiosa, iria, por certo, despoletar. Até o seu lugar estaria - imaginou ! - comprometido, apesar de peça fundamental, associada às grandes realizações propagandísticas do regime. Salazar não costumava perdoar erros de clara incompetência. E no caso, a mesma, estava ainda associada a incúria negligente, o que, pela dimensão simbólica - e pública ! - do acto, ultrapassava a mera questão de imprevidência. Imperdoável !
No sentido de limitar os danos o Ministro enviou de imediato para Lisboa um telegrama, onde retocou a gravidade do acontecimento. E mesmo sem saber em pormenor, como iria ser, apressou-se a garantir, contudo, que a Nau estaria a tempo de ser exibida em Lisboa, na Exposição, depois de posta a flutuar. O que assegurou, iria acontecer dentro de breves dias (?!). Que se prolongariam por três longos meses.
3 - A ENTRADA EM CENA DO ENGº SALVADOR SÁ NOGUEIRA, DA A.D.G.P.L.
Em Lisboa, já na segunda-feira seguinte ao infeliz acontecimento, o Ministro não perderia tempo em convocar com urgência o engº Salvador de Sá Nogueira, reputado técnico da Administração Geral do Porto de Lisboa -o mesmo que ultimamente dirigira o resgate de vários navios acidentados, e de entre eles, o do rebocador «Cabo Sardão» e da «Draga Alcântara», técnico por isso com larga experiência na matéria - conferindo-lhe plenos poderes e excepcionais liberdades para recrutamento de meios, no sentido de recuperar com a máxima rapidez, a «Nau Portugal». Sem olhar a despesas. Estava em jogo o orgulho nacional, achincalhado, exalviçado, salpicado de lama pelo acontecido, cuja recuperação não tinha preço, nem dilação.
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