domingo, 28 de outubro de 2007

Fasciculo 6

1.1 - CHEGADA DOS MAIORAIS


Pairavam as pequenas embarcações ao largo da carreira onde a Nau repousava, remos chapinhando na água, aguardando o momento do deslizamento da dita pelo ensebado plano inclinado, quando chegaram apressados ao Estaleiro os «grandes dignitários» : - da igreja e da politica. Um «casamento» de livre vontade assumido, que se pretendia perfeito, entre um catolicismo bolorento e o nacionalismo salazarista, unidos para os bons e maus momentos, em aparo mútuo, escondendo na intimidade, ligeiros sinais de discordância, aqui e ali, pontualmente sentidos, pois que Salazar, avaro, pretendia mais que a Igreja servisse o Regime, do que o contrário, como desejado pela ala mais radical de uma igreja ainda então, com resquícios de fortes tiques miguelistas.
O primeiro a chegar - como lhe competia - tinha sido o Presidente da Câmara da Vila. Pudera!... ter sido esta terra a escolhida para a tamanha tarefa da construção da Nau, pela destreza e sabedoria acumuladas das suas gentes, era coisa bastante para encher o ego de qualquer político local. Gentes que eram rebentos da mesma cepa, daqueles outros de antanho que desde os primeiros passos da nação - quando estes eram, ainda, tímidos e trémulos, mas nem por isso menos ousados! - já tinham dado provas de saber, arte e engenho, suficientes, no manejo do machado e da plaina para armar valiosa frota, como aquela que demandara Ceuta, na que foi a primeira grande aventura da adolescência pátria. Por isso, o senhor Administrador de tão «ufano» Concelho, cumprindo a rigor o papel de anfitrião, chegara cedo a fim de receber os ilustres visitantes, gente graúda e ilustre, a precisar de tratamento piscativo, fosse este mesura reverencial, salamaleques de ocasião, ou catarata verborreica - verbi gratia - no que, diga-se em bom abono da verdade, o sr. Administrador, homem culto, não era acanhado, nem peco.
Gentil anfitrião, mandara mesmo atapetar de flores o caminho tosco de acesso ao estaleiro, polvilhando-o com fofas e delico-doces pétalas de invasivo perfume, num gesto acolhedor, aprimorado e fidalgo, de bem receber.

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