Publicado por Senos da Fonseca
Para Salazar, “a alma vivificadora da exposição, ia a coroa radiosa de flores da sua Obra Monumental” - podia ler-se à época nas edições das revistas, dedicadas à mesma.
8 - HISTÓRIA REPETIDA
A imprudência e algum primitivismo - e ou empirismo -, certamente advindos da ideia da construção ser proveniente de uma Comissão mais preocupada com o esplendor do que no respeito por exigências técnicas, não permitiu que se tivessem tomado as cautelas necessárias para evitar o contratempo acima relatado.
fig. 26 - O volteio da «Vasa»
E o certo é que nos arquivos da história havia exemplos que mereciam atenção e uma tomada de especiais cautelas aquando da decisão de se construir a Nau.
8.1 – A «VASA KRANTAR»
fig. 27 - A «Vasa» no Museu de Estocolmo
De facto uma Nau, a «VASA KRANTAR» de 69 m de comprimento, 11,70 m de manga e 3,9 m de calado, com um deslocamento de 1200 Ton, na sua primeira viagem realizada em 10.08.1628, depois de recorridos umas centenas de metros, à primeira sopradela vento, voltou-se. E afundou-se, perante o olhar de espanto de uma multidão que tinha acorrido para apreciar aquela que se dizia ser, a unidade definitiva com que Adolfo Gustavo II pretendia aniquilar a Polónia.
Permaneceria três Séculos no fundo do mar.
Em 1961 o Eng.º Anders Franzen conseguiu obter o interesse do rei da Suécia Adolfo Gustavo IV - curiosa coincidência - e conseguiu erguer o barco em 24.04.1961.
Depois de tratada e recuperada foi levada para o Museu de Estocolmo.
fig. 22 - Finalmente fundeada em Belém
7 - EXPOSIÇÃO DE OURO
Em 7 de Setembro a Nau é - finalmente - «aberta» ao público.
fig. 20 - Equilíbrio Longitudinal
Deslocado o peso, (que provocava a imersão a) até uma distância d de C, o mesmo irá provocar a imersão a+b (afundando-se) à proa mas manter-se-á a imersão na vertical da popa, desde que d se mantenha em certos limites (determinável em cada caso, d = 2M/ I, sendo M o momento necessário a produzir 1 cm de diferença de imersão, e I o deslocamento por 1cm de imersão).
Esta distância, d, para um e outro lado, determina os chamados pontos de indiferença para as imersões de proa, e ou de ré, segundo v’v’ está, por ante vante, ou por ante ré, de vv.
Colocado o peso por vante de v’v’, a embarcação afunda de proa e levanta de ré. E isso é o que pretendia Sá Nogueira, contra o espanto daquela gente que, aterrorizada, vê a já de si tremendamente alta e desproporcionada popa, a subir ainda mais, parecendo, assim, criar maior desequilíbrio.
O calado atingiu, depois de deslocado o lastro convenientemente, os 13´ à ré ; e 12´ 5´´ à proa, praticáveis, em vez dos 15´ anteriores.
O desconhecimento do sítio exacto onde colocar o lastro (fora do ponto de indiferença) para produzir os efeitos pretendidos, colocava em dúvida o conhecimento do técnico ; o que levou à tomada de medidas drásticas e ao primeiro confronto pessoal com o mestre Mónica mal aconselhado, ao que parece.
Curiosamente no único plano de formas que existe no Museu da Marinha, visualizámos que o calado aí referido, era previsto ser 7´ 80´´ à proa, e 10´ 50´´ à ré. Por aqui pode ter-se uma ideia da ligeireza com que a Nau foi projectada, e as razões obrigatórias para o seu capotanço : - a falta imperdoável de cálculos rigorosos e cuidados, de modo a evitar o sucedido.
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(fascículo 21)
6 - LIBERTAÇÃO
Só que de imediato também se apercebeu da outra evidência.
A de que, com o calado médio 3,82 m - com 4,52 m à popa - a embarcação estava cativa. Pois que nem a ria com os seus bancos de areia espalhados ao longo do trajecto até à barra, nem mesmo esta, tinham profundidade suficientes para a libertar. Em condições normais de flutuação a Nau estava condenada a ficar prisioneira da Laguna. O que evidenciava uma clara e insensata irresponsabilidade, técnica.
Dá-se então o primeiro choque entre o mestre Mónica e o Eng.º Sá. Este ordenaria que fosse passado o lastro para a proa, de modo a que a Nau mergulhasse de proa e subisse de ré, pretendendo com isso diminuir o calado máximo. Ausente em Lisboa, é-lhe enviada uma carta do Mestre que lhe sugere que tal pretensão lhe parecia ser um erro, por poder alquebrar o navio. E porque, experimentando mudar o lastro, o barco afundava sem subir de popa, pelo que seria inútil e perigoso tal trabalho, afirmava o Mestre na referida missiva.
Sá Nogueira irritado compreende que tem de tomar posições firmes contra um certo empirismo reinante, e contra opiniões demonstrativas de certa ignorância, pois descortinava que alguém estaria por detrás da carta que lhe fora enviada, assinada pelo Mestre.
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fig 17 - Equilíbrio Indiferente
3ª- O Metacentro (M) fica abaixo de G.
Neste caso o equilíbrio é instável, e a embarcação continuará a adornar continuamente, até soçobrar. (fig 18)
fig 18 - Equilíbrio Instável
Servindo-se da técnica (fig. 19) do peso móvel deslocado no tombadilho, e lendo numa régua graduada o afastamento provocado num pêndulo imerso em água (para melhor estabilização), o engenheiro Sá concluiu, rapidamente, que com o lastro embarcado, a altura metacentrica (r-a) era positiva. O metacentro (M) situava-se acima do centro de gravidade ( G), sendo o seu valor de + 0,82.
Isto significava, que nesta situação, a Nau poderia navegar.
fig 19 - Ensaio altura Metacêntrica
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fig 15 – A Nau peada a terra
Notou-se desde logo, uma certa tendência para a Nau voltar a inclinar-se, o que indiciava problemas de instabilidade irreversivel,se nada fosse feito. Assim, enquanto a cábrea mantinha a Nau em posição, e se lastrava esta, mandou-se abrir um rego perpendicular ao anterior, no sentido norte-sul, para onde se deslocou a embarcação, que, convenientemente peada para terra, ficou em posição de aproada, ao norte.
A questão agora - para o engº Sá -, era de fazer quanto antes uma prova de estabilidade estática. Pretenderia, assim, determinar a posição do metacentro depois de, numa primeira tentativa, mais ou menos a olho, lastrar a embarcação.
5 - A QUESTÃO TÉCNICA
Rapidamente, e de um modo simplificado, vejamos os aspectos técnicos do problema.
Quando uma embarcação mergulha na água, o seu peso (deslocamento) é aplicado no seu centro de gravidade G. A parte do casco imersa cria uma força de impulsão, de sentido contrário.
Ora quando a embarcação sob a aplicação de eventual força exterior, se inclina, três situações se podem verificar :
1ª - O Metacentro (M) ( ponto onde conflui o plano diametral da embarcação e a vertical traçada desde o centro da carena quando este se deslocou, motivado por uma inclinação provocada na embarcação situa-se acima de G .
fig 16 - Equilíbrio estável
Nestas condições a embarcação é estável, tendendo a endireitar-se quando a força que lhe provocou a inclinação, desaparece ou diminui (fig 16)
fig 14 –Esquema de aderiçamento
Fundamental, seria, a decisão de dragar a ria paralelamente à posição da Nau, por BB. No dia 26 o engº Sá deu ordens para aderiçar. Imediatamente a Nau começou a endireitar até ao ângulo máximo de 75º, dado que nessa posição os dois cadernais (da cábrea e o fixo ao calcez) estavam a beijo.
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Logo no dia seguinte o engº Sá Nogueira apresentar-se-ia em Aveiro, acompanhado pelo Comandante Luís Spencer, a quem iria encarregar de dirigir os trabalhos, no local. De imediato contactou o Mestre Mónica, explicando-lhe o plano com que tencionava, rapidamente, voltar a pôr a Nau a flutuar. Para isso, os meios que tinha no Porto de Lisboa, pareciam-lhe suficientes. Solicitou, então, que lhe fossem entregues planos detalhados da embarcação, pois desejava, antes de se lançar ao trabalho, efectuar diversas verificações.
Perplexo, recebeu a informação do Mestre, de que pouco mais haveria do que um plano geral (!!!) de formas (fig 13), porquanto, dado o pouco tempo havido entre a tomada da decisão de construir a Nau e a data da exposição, se teria pensado - tratando-se de uma réplica de embarcação já provada, e não haver muitas transformações a fazer para a adaptar aos fins em vista - serem dispensáveis planos mais pormenorizados, de maior detalhe técnico construtivo.
Este teria sido, afinal, o erro capital, omissão imperdoável que teria conduzido ao desastre!
O que o engº Sá Nogueira se queria certificar, era se o volteio da Nau fora causado por falta de estabilidade, ou se teria sido produzido pelo encalhe ; e, neste caso, se aos impulsos hidrodinâmicos, outras solicitações exteriores se lhes teriam vindo juntar.
Voltando a Lisboa ordenou que se aprontassem, o rebocador «Cabo da Roca», a draga «Engenheiro Matos» e a cábrea «Adolfo Loureiro» ; os primeiros largaram para Aveiro a 16 desse mês, tendo aqui chegado a 18. O rebocador voltaria ainda a Lisboa para trazer a cábrea.
Entretanto, em Aveiro, foram solicitados aos Pilotos da Barra todos os elementos possíveis sobre a navegabilidade da ria, bem como do canal de acesso da barra.
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Oonde se dá relação das atribulações com o bota-abaixo da «NAU PORTUGAL» e se relatam as razões ,e os trabalhos para a fazer flutuar,de novo,até chegar à «Grande Exposição do Mundo Português»